quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Cruzamento

Palavras soltas na procura de frases para as aquecerem. Medos perdidos da sua razão, querem ser o que não são. Espaços abertos nas rachas das paredes esquecidas. Olhares iguais aos demais. Vigor de um tempo de esperança. Cansaço de um tempo de espera. Quando se cruzavam naquela avenida, não se olhavam. Era a primeira vez que passavam um pelo o outro. Outros dias repetiram esse passar de olhar que não vê. Um dia passaram, olharam e viram. Depois, muito tempo depois, passaram, olharam e falaram. E nunca mais deixaram de ver, olhar e falar. Podia ter sido comigo. Podia ter sido contigo. Podia ter sido connosco. Mas não foi e pouco importa. Todos os dias, muitas pessoas se cruzam e não olham. Talvez nunca venham a olhar. Se olharem, vêem e se quiserem falar, falam. É importante ver e falar. Palavras abandonadas em busca de frases esquecidas. Vidas repetidas, vividas para além de outras vidas. Sorrisos escondidos pela vergonha de um olhar. Razões para ser. Razões para deixar de ser. Passos perdidos e nunca encontrados. Eu um dia se passar por ti vou olhar. E se olhar vou ver. E se vir vou falar. Mas se me esquecer, peço-te que me recordes. Afinal as frases têm que ter palavras para dizer.

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